A jornada da heroína é uma resposta ao modelo proposto por Joseph Campbell
A Jornada da Heroína é um modelo de storytelling focado no desenvolvimento de personagens femininas. Esse conceito foi desenvolvido pela psicoterapeuta e escritora Maureen Murdock como uma resposta e complemento à famosa Jornada do Herói, de Joseph Campbell, de quem ela foi aluna.
Murdock propõe no livro “The Heroine’s Journey: Woman’s Quest for Wholeness” (lançado no Brasil como “A Jornada da Heroína: A busca da mulher para se reconectar com o feminino”) que a jornada de personagens femininas siga um caminho distinto, refletindo suas experiências e desafios específicos.
Ou seja, é um contraponto com símbolos compatíveis com a experiência das mulheres no mundo. Mas, assim como na Jornada do Herói, essa estrutura narrativa representa o caminho de autodescoberta da protagonista no mundo.
A divisão da jornada da heroína é realizada em 10 etapas que representam a trajetória de autoconhecimento.
A personagem, inicialmente, se afasta do feminino, já que a sociedade patriarcal considera seus valores negativos. As mulheres são vistas como fracas, emotivas e instáveis, levando a heroína a rejeitar aspectos femininos de si mesma.
A heroína se identifica com o masculino, acreditando que essa é a fonte de força e sucesso. Ela se junta a aliados masculinos e embarca em aventuras, seja na carreira, vida familiar, ou outras áreas, enfrentando desafios e buscando autonomia e sucesso.
Neste ponto, a heroína enfrenta diversos obstáculos e adversidades em sua jornada, simbolizados como ogros e dragões. Ela supera esses desafios, mas o processo a exaure, exigindo sacrifícios pessoais mais profundos.
A heroína alcança o sucesso em termos convencionais, mas isso leva a um esgotamento. Apesar de suas conquistas externas, ela sente um vazio interior, indicando que algo essencial está faltando.
A sensação de vazio leva a heroína a um ponto de crise, em que ela experimenta uma “morte espiritual”. Isso a força a confrontar o custo interno de sua jornada e reconhecer que o sucesso externo não trouxe realização interior.
A heroína começa a reconectar-se com o feminino, simbolizado pela figura da deusa. Este é um período de introspecção e cura, durante o qual ela começa a valorizar e integrar aspectos femininos que havia rejeitado anteriormente.
Sentindo a necessidade de um equilíbrio interno, a heroína se esforça para restaurar sua conexão com o feminino. Isso envolve redescobrir seus verdadeiros desejos, sonhos e valores.
A heroína resolve conflitos internos relacionados à figura materna, que inicialmente era vista negativamente. Este processo é crucial para sua cura e integração emocional.
A heroína também cura a relação com seu lado masculino interno, que havia se tornado tirânico. Ela reconhece que a cultura e a sociedade eram as forças que massacravam o feminino, não o próprio masculino.
Finalmente, a heroína encontra equilíbrio entre os aspectos masculino e feminino dentro de si. Ela se torna completa, capaz de navegar no mundo diário com sabedoria e compartilhar seu conhecimento com a comunidade, servindo como uma figura inspiradora.
Tanto a Jornada do Herói, popularizada por Joseph Campbell em seu livro “O Herói de Mil Faces”, como a Jornada da Heroína, desenvolvida por Maureen Murdock, são modelos narrativos que descrevem o desenvolvimento de personagens em histórias.
Enquanto a Jornada do Herói tem sido amplamente utilizada em narrativas que não necessariamente focam no gênero, a Jornada da Heroína oferece uma perspectiva que reflete experiências e desafios específicos das mulheres.
A Jornada do Herói de Campbell segue um padrão cíclico que pode ser encontrado em mitos e contos de diversas culturas. Esse modelo é composto por 12 etapas:
Nessa narrativa, o herói retorna ao mundo comum com o conhecimento ou poder adquirido durante a jornada. O foco principal é a transformação do personagem por meio de desafios externos e internos, enfatizando o triunfo sobre adversidades e o crescimento pessoal.
Por outro lado, a Jornada da Heroína, segundo Maureen Murdock, é composta pelas 10 etapas que abordam a reconciliação do feminino e masculino internos.
A jornada começa com a Separação do Feminino, em que a mulher se afasta dos valores femininos devido à influência patriarcal, e passa por etapas, culminando na Integração do Masculino e Feminino, na qual encontra equilíbrio e completude interior.
Este modelo enfatiza a necessidade de reconectar e valorizar os aspectos femininos que foram negligenciados ou rejeitados.
Portanto, enquanto a Jornada do Herói foca no desenvolvimento através de aventuras e conquistas externas, a Jornada da Heroína aborda uma transformação mais interna e introspectiva.
A Jornada do Herói é linear e externa, com o herói enfrentando desafios claros e retornando com um prêmio tangível. Em contraste, a Jornada da Heroína é cíclica e interna, com a heroína buscando integração e equilíbrio entre suas qualidades masculinas e femininas.
A distinção entre as duas jornadas também reflete valores culturais. A Jornada do Herói, com sua ênfase em conquistas externas e superação de adversidades, espelha os valores patriarcais de muitas sociedades.
Já a Jornada da Heroína, com sua ênfase na integração interna e na valorização do feminino, oferece uma crítica a esses valores, propondo um modelo de crescimento que inclui aspectos tradicionalmente marginalizados.
Ambos os modelos têm aplicações na narrativa contemporânea. A Jornada do Herói continua sendo uma estrutura poderosa para histórias de aventura e superação. No entanto, a Jornada da Heroína oferece uma perspectiva necessária para representar de maneira mais autêntica as experiências femininas.
Isso não quer dizer que a Jornada do Herói não pode ser utilizada para em narrativas femininas. Ela pode e, inclusive, aspectos de ambas as estruturas narrativas podem ser combinados.
A Jornada da Heroína é caracterizada pelo rompimento com preconceitos e mudanças pessoais. E, assim, é fonte de inspiração para mulheres que enfrentam as pressões do ambiente e para contar histórias que representam suas experiências.
Nos filmes, séries e animações, podemos encontrar bons exemplos de narrativas construídas a partir da Jornada da Heroína.
A jovem Mulan, por exemplo, que se disfarça de homem para servir ao exército e salvar o pai doente. Após diversas batalhas, conquista o sucesso junto ao imperador, retorna a sua terra natal e termina reconhecida sem se esconder por trás da imagem masculina.
Carol Davis, a Capitã Marvel, é outro exemplo. Ela perde a memória de seu passado e desconecta-se de sua figura materna, enquanto precisa lidar com superpoderes para enfrentar um exército de invasores. Ao final, reconecta-se com atributos ligados à maternidade.
Utilizar a Jornada da Heroína em apresentações profissionais pode ser uma estratégia poderosa para criar conexões emocionais profundas e transmitir mensagens de forma impactante, especialmente para o público feminino.
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